Chuva Negra - O relato de uma triste história que não pode ser esquecida

Já se passaram 70 anos da tragédia nuclear no Japão, ocorrida durante a Segunda Guerra Mundial. Lembro como me impressionou o livro Chuva Negra, de Masuji Ibuse, que aborda este tema. Li no final dos anos 80, emprestado pelo Dr. Silva Telles, médico do Hospital Alemão Osvaldo Cruz, com quem trabalhava na época. O livro foi publicado em 1965, 20 anos após o lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e Nagasaki em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente. De forma narrativa, ele traz a visão de personagens que testemunharam o desastre. 
 
Masuji Ibuse já era um escritor experiente quando lançou Chuva Negra. A partir de então tornou-se internacionalmente conhecido. A história foi adaptada para o cinema em 1989 pelo diretor Shohei Imamura. O filme, em preto e branco, é fiel à história de Ibuse. Recebeu menção especial no Festival de Cannes em 1990. Vale a pena conferir também.

Querendo guardar o livro que me marcou tanto, há alguns anos fui procurar em livrarias, mas a primeira publicação, pela editora Marco Zero, já estava esgotada. Acabei encontrando pela internet numa livraria da Paraíba. Agora, porém, já é possível adquirir mais facilmente a recente edição lançada pela Estação Liberdade, com nova tradução.

Mas vamos à história!

Passados quase cinco anos da explosão nuclear, Shigematsu Shizuma e sua esposa Shigeku, ambos com os mesmos sintomas daqueles que foram expostos à radioatividade, querem casar a sobrinha Yasuko que, aos 25 anos, já está passando da idade. A jovem atravessou com os tios a Hiroshima contaminada e os boatos de que ela também já estaria doente afasta um a um os pretendentes.

Para provar que os comentários e os temores são infundados, o tio decide transcrever o diário da sobrinha daquela época, além de seu próprio e o da mulher, para mostrar a diferença do que viveram. Mas os escritos acabam provando que a jovem esteve sob a chuva negra radioativa a caminho de Hiroshima.

A ótima narrativa, os relatos minuciosos, permitem visualizar os efeitos físicos da bomba, a cidade incendiada, totalmente destruída, as mortes... mas sem sensacionalismo. A bomba lançada pelos Estados Unidos, chamada de Little Boy, matou mais de 140 mil pessoas em Hiroshima. A segunda, dois dias depois, que recebeu o nome de Fat Boy, vitimou outras 70 mil em Nagasaki.

Com a publicação de Chuva Negra, Masuji Ibuse recebeu a Medalha Cultural e o prêmio Noma, o mais importante do Japão. Ibuse é considerado uma espécie de eminência-parda das letras japonesas.

Leitura que sempre indico!