Turismo em tempo de crise

Como viajar gastando pouco
por Luciana de Melo
(publicada em 2009)

 

O setor de turismo foi um dos atingidos negativamente pela turbulência econômica global. Por aqui, num primeiro momento, o dólar em alta fez o brasileiro desistir dos destinos internacionais, optando por viagens domésticas. A atividade turística, porém, já tem mostrado sinais de recuperação e a expectativa da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo, Braztoa, é de fechamento do ano com alta de 5%. A liberação de preços dos voos internacionais pela ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil, associada à redução na cotação da moeda americana, está reaquecendo o mercado.

Mas a queda no preço das passagens não é a única boa notícia para quem quer viajar gastando pouco. É possível baratear uma viagem adotando algumas medidas e sem abdicar totalmente do conforto. Quem dá as dicas é Verônica Farias dos Santos, mochileira que acaba de lançar o livro “Meu pé que me leva pelo mundo”, onde conta suas experiências e mostra que mesmo com pouco dinheiro ou sem entender muito bem a língua local, dá pra se aventurar por outros países e adquirir o conhecimento e a cultura que superam o que ensinam os livros de história e geografia. Além, claro, do prazer e alegria que uma viagem como essa pode proporcionar.
Turismo para todos
Medidas de incentivo ao turismo, pacotes mais acessíveis e facilidades como parcelamentos a perder de vista estão levando uma faixa da população a planejar com mais frequência as viagens de férias e com o real valorizado ficou mais fácil realizar o sonho de uma viagem internacional. A liberação de preços das passagens aéreas internacionais, aprovada pela ANAC, Agência Nacional de Aviação Civil, também contribuiu para o barateamento deste tipo de viagem. Desde abril são permitidos descontos de 20%. Em julho, eles foram ampliados para 50% e em mais três meses, vão para 80%. Em um ano, não haverá mais preço mínimo e as tarifas serão livres.
A ANAC já havia adotado a liberdade tarifária gradual para os voos com origem no Brasil para a América do Sul, que foi concluída em setembro do ano passado. Para os domésticos a liberação de preços já vigora há mais tempo. Os descontos, no entanto, não são obrigatórios, cada companhia aérea trabalha de acordo com suas estratégias comerciais, o que torna necessária uma pesquisa por parte do consumidor em busca da melhor oferta.
Mas, e as hospedagens nos hotéis, os passeios, as refeições? Tudo isso pode elevar muito os gastos da viagem, você pode concluir.  Não necessariamente. Se houver planejamento e disposição para abdicar de alguns confortos, dá para adaptar os custos ao seu bolso. É o que fazem os mochileiros. E não é preciso ter espírito aventureiro, ser radical ou ter idade específica para ser um deles. Qualquer pessoa pode adotar este estilo e desfrutar dos mesmos prazeres proporcionados por uma agência de viagens.

“Viagem por uma agência de turismo sai mais cara porque além dos gastos com funcionários, eles são seu seguro de que tudo correrá bem. Seguro não é barato”, diz Verônica Farias dos Santos, autora do livro Meu pé que me leva pelo mundo. Com uma mochila nas costas, Verônica conheceu 20 países e desfez o mito de que viagens internacionais são para um seleto e abastado grupo. “Queria que mais pessoas se aventurassem pelo mundo. Queria mostrar que se eu conseguia fazer isso, elas também conseguiriam.”
O barato de mochilar
Por todo canto do planeta é possível encontrar albergues, os chamados “hostels”, e não é preciso ser sócio, como muitos ainda pensam, embora os associados tenham alguns benefícios. Eles possuem acomodações coletivas para duas ou até 12 pessoas. A falta de luxo e de total conforto é compensada pelo preço.  A diária em Buenos Aires, Argentina, custa cerca de U$ 12 e em Paris, França, 22. O Brasil está entre os quinze países mais bem servidos deste meio de hospedagem em todo o mundo, sendo líder na América Latina, segundo a Federação Brasileira de Albergues da Juventude.
“Quando se fala em viajar para fora, as pessoas já visualizam um tsunami de gastos com hotéis, alimentação, tours, guias traduzindo tudo, gastos com visitas a museus, parques, transportes”, observa Verônica. “Quando se fala em viagem econômica, o mochilão, cortam-se esses gastos pela metade. É que viajar por conta própria corta o intermediário. É ele quem fica com suas economias, não o local para onde você vai.”
O mochileiro geralmente não utiliza o serviço de guias. Ele mesmo pesquisa os pontos turísticos e compra seus ingressos. A locomoção também é feita da maneira mais econômica – ônibus, metrô e caminhadas. As refeições podem ser feitas no próprio albergue, que disponibiliza uma cozinha com todos os utensílios necessários. Há opção, porém, de direcionar as despesas de acordo com a necessidade. A redução no gasto com hospedagem pode permitir frequentar restaurantes. Ou a economia com a locomoção de ônibus pode render um ingresso para um show, museu ou parque.
O importante é saber que é possível viajar gastando pouco. Verônica ensina: ”Sempre há formas de se baratear uma viagem. Pegar carona, dividir aluguel de carro, dormir na casa dos outros, acampar, preparar sua própria alimentação, aproveitar atrações em dias gratuitos, tudo isto faz com que você use melhor seu dinheiro”.
Outra dica da mochileira são hotéis de linha econômica, para quem acha que será muito chato ficar em albergue. “Os valores são convidativos para quem viaja com uma grana mais que suficiente e provavelmente ninguém vai convidá-lo para conversar em seu quarto e nem pedir para acompanhá-lo ao museu no dia seguinte”. 
Pé na estrada
O mochileiro também viaja acompanhado, mas para ele não é problema seguir sozinho, sem medo de se deparar com uma língua estranha, com um país estranho. “Essas coisas é que fazem a viagem econômica mais especial”, afirma Verônica. “Além de você descobrir que dá conta de viver com independência, ainda vê seu poder de interagir com pessoas de culturas tão diferentes.
A dica principal da autora para fazer uma viagem econômica é “priorizar o desejo”. “Seus pés estarão pelo mundo muito antes do que você imagina, o que fará muito bem para sua vida e às pessoas que estão a sua volta”. E ela aconselha: "Viajar, viajar... conhecer. Isto é o que vale. Seja por uma agência ou por sua própria conta, o negócio é fazer o melhor possível para desfrutar de todas as coisas boas que uma jornada proporciona”.
O livro “Meu pé que me leva pelo mundo – o barato de mochilar só, com pouca grana e curtindo muito” , de Verônica Farias dos Santos, pode ser adquirido através do site da autora – http://viajequeteajuda.blogspot.com